"Gosto que me Enrosco" da Portela 1995, O Texto do Enredo de José Félix





Texto do site Tradição de Samba AQUI 

PORTELA 1995 - GOSTO QUE ME ENROSCO
(Assista ao vídeo do Desfile clicando AQUI )

"Nos tempos coloniais, havia o entrudo, uma das tradições que herdamos dos portugueses. Os foliões convidavam ao entrudo, que consistia em jatos d’água esguichados com bisnagas, ou mesmo atirados em baldes. Os limões-de-cheiro, fabricados com cera e com recheio de água perfumada, eram mais galantes.
A imprensa desenvolvia unia campanha contra. A favor de um carnaval ao estilo das festas européias, principalmente das venezianas.
A sua decadência atrai a imaginação popular para a confecção das máscaras, feitas de cera muito fina ou de papelão. Simulavam caras de cão, de gato ou de porco. Cabeças articuladas com bigodes e barbas, olhos que piscavam e queixos móveis. O primeiro baile de máscaras em teatros cariocas, foi feliz idéia de unia atriz estrangeira. Abram alas para as colombinas. O aparecimento desses bailes foi de grande importância para a participação da mulher no carnaval. Festa que antes, na opinião de quase todos os pais, moça de família não deveria participar.
Do entrudo, passou o folião carioca às batalhas de flores copiadas do carnaval de Nice. As batalhas de confete, do Carnaval de Nápoles.
Não se sabia ainda, o que eram: cuícas, tamborins e demais instrumentos de percussão, que integram as baterias das Escolas de Samba de hoje. O bumbo, ou zabumba, surge no carnaval introduzido por um português, conhecido por Zé Pereira, tradição durante meio século.
Dele, evoluíram os cordões e blocos que passaram a usar, além do bumbo, cuícas, tamborins, pandeiros e frigideiras.
Surgem as primeiras sociedades carnavalescas em 1850. O Congresso das Sumidades Carnavalescas foi pioneira. Vieram os Tenentes do Diabo, dos Fenianos e Democráticos. Foram associações importantes também para a Abolição da Escravatura. Coletavam dinheiro em suas passeatas para comprar e alforriar escravos.
Dançavam a quadrilha, o xote, a valsa, a polca. A partir de 1870, o maxixe, a dança excomungada. Primeira dança nacional (uma mistura de polca com lundu africano).
Ao final do século passado, os trabalhadores do cais do porto (negros, mestiços, mulatos), deram início ao samba. Os maxixes aproximaram-se do samba urbano de hoje. Concentravam-se nas imediações da Pedra do Sal, no bairro da Saúde, nesta "Sebastinópolis", verdadeiro reduto de usos e costumes trazidos da Bahia.



Nascem os primeiros ranchos que deram outra feição ao carnaval carioca. Desfilavam com enredos cheios de esplendor, arte e riqueza.
Os baianos residentes no Rio, ao trazer seus rituais religiosos e festivos, danças e representações folclóricas, encontraram no carnaval um novo centro de interesse. O carnaval torna-se, nas zonas urbanas, especialmente em Salvador, Rio e Recife, um catalisador do folclore. Chama a si e incorpora os cucumbis baianos, o maracatu de Pernambuco, os congos e congadas, as taieiras e o quilombo. Iniciou-se por esse tempo, o carnaval de rua hoje conhecido. Os cariocas que iam participar dos festejos públicos, desembarcavam dos bondes estacionados em lugares determinados, antecipadamente anunciados pela imprensa. Do início deste século em diante, o carnaval modifica-se constantemente. A Praça Onze transbordava. Dos lados do Cais do Porto e do Mangue, ouvia-se um baticum forte de tambores. O bonde lotado, despejava piratas, odaliscas, malandros de chapéu-palhinha cetins e lamês brilhantes. Bigodes e cavanhaques postiços. Cheiro de suor e do lança-perfume Rodo Metálico. A classe média desfilava de pierrô colombina e arlequim. Os automóveis abertos, ou corsos, eram a novidade. A marchinha "Ó Abre-Alas", de Chiquinha Gonzaga, era invencível desde 1899. Mas cedia a vez ao tango-chula "Vem Cá, Mulata". A iluminação a gás era substituída pela elétrica.
"Pelo Telefone", primeiro samba, abriu caminho para o novo ritmo que chegava. Nos anos 20, a difusão do rádio ameaçava esvaziar os Teatros de Revista. A Festa da Penha, depois do carnaval, seria o maior acontecimento popular do Rio. Acontecia o início do carnaval, pelo menos ao que se referia à música. Compositores lançavam suas obras, já de olho no carnaval seguinte. Multidões acorriam ao subúrbio. Daí a razão dos lançamentos ali. Composição consagrada na Penha, seria êxito indiscutível em fevereiro. Os velhotes de bengala e polaina paqueravam as damas na Confeitaria Colombo.
O samba adquiria seu ritmo próprio e envolvente. Surgia no Estácio a "Deixa Falar", com idéia diferente dos ranchos, na coreografia e na organização.
O aparecimento das Escolas de Samba decretou a decadência dos ranchos. Já vai longe o tempo em que um grupo se reunia na casa da Tia Ciata. Aí nasceu o primeiro samba gravado.
Resta o consolo de que, o carnaval vale pela descontração e consiste em criar um ânimo novo. Com pessoas acreditando mais nas coisas e nos homens. As Escolas de Samba, ainda estão aí: luxuosas, coloridas, desfilando os amores pomposos, os mundos encantados e misteriosos, como o povo gosta.
A sua antiga pureza desapareceu, industrializadas ou não, o fato é que elas continuam sendo o grande, talvez o único, espetáculo desse nosso antigo carnaval de rua.
É preciso cantar e alegrar a cidade. As Escolas de Samba não se deixaram abater pelos modismos de cada época. Adaptaram-se. Levantaram, sacudiram a poeira e deram a volta por cima.”(José Félix)”.

 

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