Os Enredos Críticos da São Clemente



 Devido aos enredos panfletários da década de 80, a escola também ficou conhecida como o "PT do samba". Na atual década, no entanto, a escola vem tentando imprimir um novo estilo de fazer carnaval. Mas agora com a tutela do Carnavalesco Fabio Ricardo, a Escola retoma seu bom humor, e até mesmo seu senso crítico, haja visto o carro das enchentes do Rio de Janeiro, no ano de 2011.
"No começo, os desfiles da São Clemente eram realizados pelas ruas de Botafogo. Sua estreia nos desfiles oficiais das escolas de samba ocorreu em 1962, na Avenida Rio Branco, pelo terceiro grupo. O enredo da escola exaltou as riquezas do Brasil: geografia, vegetação, pedras preciosas, ferro, borracha, café, industria e o petróleo." Leia mais AQUI.



Em 1963, seu segundo ano de vida, a São Clemente dá um ar de crítica em Rio dos Vice Reis, é campeã, mostrando uma versão abrasileirada do "Pão e Circo"durante o período do Vice Reino que foi transferido de Salvador para o Rio de Janeiro, onde os governantes patrocinavam festas populares, enquanto o povo sofria. Este período teria fim quando a Familia Real vem morar em definitivo no Brasil.
Mas é na Década de 80 que a Escola ganha a alcunha de PT do samba, por seus enredos panfletários e irreverentes:
"Em 1981, a São Clemente pela primeira vez na história do Carnaval reeditou um enredo (Assim Dança o Brasil), graças a astúcia dos seus dirigentes que conseguiram junto a AESCRJ esse direito, pois em 1969 com o mesmo enredo a escola desfilou, mas não foi julgada.
Eram tempos difíceis, mas a escola aproveitou-se da adversidade para se impor no carnaval. E o resultado positivo não tardaria a acontecer. A virada da São Clemente aconteceu através das mãos do carnavalesco Carlinhos D'Andrade, que passou a dar expediente no barracão da escola em 1982, desenvolvendo o enredo sobre o arco-íris, na figura lendária de Oxumaré." 
"A partir de então, a escola se caracterizou por apresentar enredos participantes e de cunho social, que, comprovadamente, a define como uma escola de samba preocupada com a problemática do povo brasileiro. Ousada, crítica, irreverente, política, esses são alguns dos adjetivos que passaram a denominar a escola de Botafogo.
Em 1984, a São Clemente conseguiu ascender ao então primeiro grupo com o enredo Não Corra, Não Mate, Não Morra: O Diabo Está Solto no Asfalto, sobre o caos e a violência no trânsito. A escola encantou as arquibancadas com a história bem humorada do Zeca Passista e os perigos do trânsito. Placas, semáforos, atropelamentos foram genialmente representados em fantasias e o amarelo e preto da escola juntou-se ao vermelho e ao verde em um desfile que levou a escola de volta ao primeiro grupo.
Pelo carnaval de 1985 com Quem Casa, Quer Casa, novamente desfilou uma sátira, desta vez, no tocante ao sério problema do déficit habitacional no Brasil. Sua comissão de frente ganhou o Estandarte de Ouro do jornal O Globo. A escola revolucionou o carnaval carioca ao apresentar a sua comissão de frente fazendo evoluções engajadas ao enredo - até então as escolas apresentavam nesse quesito a velha-guarda que tinham a única função de apresentar a escola, permanecendo estática e sem engajamento ao enredo desenvolvido.
De volta ao segundo grupo, a São Clemente entrou na avenida novamente abusando do bom humor e encantou público e jurados com o enredo Muita saúva, pouca saúde, Os males do Brasil são, abordando o descaso com a saúde no Brasil. Destaque para o carro que homenageava o hospital de Brasília, que atendeu Tancredo Neves, em que o paciente tinha seu leito infestado de baratas e tinha formigas até no soro. Um outro carro alegórico simbolizava a diligência da saúde que era puxada por saúvas. A escola ficou com o vice-campeonato.

"Desperta, Brasil,
Desse coma entre vorazes tubarões
Vindos por terra ou por mares,
Poluindo nossos ares, explorando nosso chão,
Impondo ordens em receitas estrangeiras,
No açoito das saúvas brasileiras,
De Norte a Sul, brasilinvest, por aí,
E outros males como o F.M.I
Mate a saúva antes dela te matar!"



No carnaval de 1987, a São Clemente retornava ao primeiro grupo com um belo samba, todo em tom menor, composto por Manuelzinho Poeta, Jorge Madeira e Isaías de Paula, este último, ex-interno do SAM (Serviço de Assistência ao Menor). Sua experiência de vida o permitiu expressar nos versos do inspiradíssimo samba sua revolta contra o descaso com as crianças pobres do nosso país. O enredoCapitães do Asfalto era uma réplica análoga a obra de Jorge AmadoCapitães da Areia. Durante o desfile, permeado de ironia na discrepância entre o luxo da vida do menino rico e a miséria da criança que perambula pelas ruas das grandes metrópoles, a São Clemente apresentou um grupo de meninos de rua de verdade. O desfile emocionou a Marquês de Sapucaí e proporcionou um dos melhores momentos da história da escola de Botafogo. Com esse desfile, a São Clemente conseguiu um honroso sétimo lugar, e marcou seu nome definitivamente na história dos desfiles da passarela. Muito antes de se falar em estatuto da criança e do adolescente, a São Clemente saía mais uma vez na vanguarda, e dessa vez, capitaneando o público e a crítica pararam para ver, apreciar e refletir sobre o enredo da escola.
Em 1988, com a violência ganhando as páginas de jornais e com o sucateamento do Estado brasileiro, leniente com esta causa, a São Clemente mais uma vez deu voz ao povo, especialmente o carioca. O enredo Quem avisa amigo é foi um grito de alerta contra a violência. A São Clemente passou com um grande contingente. O sucesso do ano anterior fez com que a escola fosse procurada por pessoas alheias a comunidade e a escola se agigantou. Como uma onda avassaladora, a escola colocou o dedo na ferida, clamando por um basta à violência, de uma forma muito bonita e poética, pouco convencional.
No ano seguinte, com Made in Brazil!!! Yes, nós temos banana, a São Clemente trouxe irreverência ao denunciar a influência econômica e cultural brasileira dentro do mercado internacional, com ênfase na hegemonia norte-americana. O café, a gasolina, o ouro e até os craques do futebol nacional foram abordados em forma de denúncia ao descaso com os produtos genuinamente brasileiros, saqueados a céu aberto e aos olhos complacentes dos governantes. Com um desfile marcado por problemas com carros alegóricos, a superação da escola foi fundamental, num ano em que se prometia o rebaixamento de cinco escolas. FONTE AQUI "

A grande surpresa do carnaval foi a São Clemente, ao fazer um célebre enredo E o samba sambou criticando o carnaval da Sapucaí. Destaque para os componentes da comissão de frente, que vieram com uns bonecos nas mãos, representando a comercialização no samba (compra e venda do quesito Mestre-sala e Porta-bandeira pelos dirigentes das escolas).Na sua coreografia,as fantasias eram jogadas no chão e eram pisoteadas.A fantasia do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira simbolizava bonecos de cordas. A simbologia das fantasias das alas e das alegorias era crítica a modernização do carnaval na era LIESA. A escola liderou a apuração até os dois quesitos junto com a a União da Ilha do Governador, naquele ano que prometia ser uma das maiores zebras da história dos desfiles. Mas,no final da apuração a escola terminou em 6o.lugar, sua melhor colocação até o momento.

Depois a escola viria, caindo e subindo do acesso ao grupo especial ano a ano.
Mas sempre com pérolas críticas como: "Já vi esse filme! "  de 1991; "E o salário ó..." de 92; O Pão nosso de cada dia" 93; "Uma andorinha só não faz verão" em 94; O que é o que é.. que não é mas será" em 1995, A Escola estava de volta ao Grupo especial e tinha Luis Fernando Reis como Carnavalesco, o autor do eterno "SAUDADE" da Caprichosos de Pilares, mas a escola não se deu bem, era muito simples suas fantasias e alegorias, devido a falta de recursos, o samba enredo também era fraco, um dos pecados sempre comuns na escola, ou eram jóias ou sambas muito fracos, o que começa a se corrigir atualmente. Ao menos a safra de sambas para 2013, prova que a Escola encontrou uma receita boa de Samba.
Em 1996 e 1997 apesar dos títulos dos enredos, a escola não é tão crítica, com Se a canoa não virar a São Clemente chega lá... de 96 a Escola contou a história da sembarcações, e em 97 com A São Clemente Botafogo na Sapucaí, homenageou seu bairro e cantou seus 35 anos, em um belo desfile, mas nada político ou contrapolítico!
1998 é a vez do belíssimo samba e enredo: "Maiores são os poderes do povo"  a escola fica em primeiro lugar e retorna ao Grupo Especial, para abandonar de vez a linha de enredos críticos sociais, e enveredar-se por patrocínios, que não lhe deram sorte.
Rui Barbosa, Sergipe, Guapimirim, Mangaratiba que lhe deu um titulo no grupo de Acesso.
Já em 2004, com a batuta de Milton Cunha, uma mistura esplosiva, que não foi bem aceita pelo juri, a Escola fez um belíssimo desfile crítico, sendo uma das primeiras Escolas de Samba a subir ao Especial, e fazer um desfile sem grandes erros! o Enredo era "Boi voador sobre o Recife - Cordel da galhofa nacional" do primeiro pedágio brasileiro a garrafa da Carla Perez a escola foi um pouco prejudicada pela chuva.


Depois disto os enredos se alternariam, em críticos e históricos, em 2005 com "Velho é a vovozinha: a São Clemente enrugadinha e gostosinha", em defesa da pessoa idosa. em 2006 a São Clemente entrou luxuosa e com carros grandes e bem acabados na sua homenagem a dupla Luiz Gonzaga e Gonzaguinha. A São Clemente arrebatou o estandarte de ouro de melhor escola, mas ficou apenas com o vice-campeonato. em 2007 O enredo ‘Barrados no Baile’ trouxe hippies, gays, nordestinos, funkeiros, negros e todas as tribos sujeitas a qualquer tipo de discriminação se espalharam por suas 1.400 fantasias. Com 2.500 componentes na Avenida, a São Clemente não cometeu deslizes e conquistou o título do Grupo de Acesso A, que lhe deu o direito de voltar ao Grupo Especial em 2008

2008 a Escola como a maioria naquele ano, se enveredou por homenagear a vinda da Familia Real para o Rio de Janeiro, para ganharem o patrocínio fácil daquele ano. Não deu certo o enredo: O Clemente João VI no Rio: A Redescoberta do Brasil"
2009, "O Beijo Moleque da São Clemente", um samba enredo belíssimo e um trabalho plástico de super bom gosto de Mauro Quintaes e Alexandre Lousada, a escola, contou a vida do palhaço negro Benjamin de Oliveira.

Choque de Ordem na folia de 2010, a escola criticou tudo que vai de mal a pior no país, o grande destaque foi a alegoria do GATO! Na luz, no gaz... e por aí foi...

2011, o bom humor e a crítica leve se somaram a irreverência da Preto e Amarelo, agora com um bom acabamento e maior harmonia de formas... "O seu o meu, o nosso Rio, abençoado por Deus e bonito por natureza" e "Uma Aventura Musical na Sapucaí" de 2011 e 12, inauguraram uma nova fase para a escola, que agora é mais leve em suas críticas e mais técnica em suas apresentações. A São Clemente amadueceu, e este ano promete muito, com o inusitado enredo sobre as Novelas da Globo!


Vamos relembrar o desfile de 1990?!:

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Imagens dAQUI



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