ENREDO: Os Malandros não subiram na Arca de Noé...!



        
         'Já em 1915 as chuvas de verão causavam transtornos no Rio de Janeiro, o prefeito Pereira Passos que tratou de embelezar a cidade aos modos parisienses não deu causou muitos transtornos, ao demolir os cortiços do centro do Rio, e excluindo a população pobre, basicamente de negros e mestiços para os morros o que fortaleceu o surgimento e crescimento rápido das favelas, criando assim mais um problema, as ocupações em áreas de risco. E até hoje em dia, se sabe que políticos patrocinam barracos nestas mesmas áreas de risco em troca de ganhar votos, se elegem e não cuidam do povo que os elegeu, e ainda massacram este mesmo povo... como fica será a consciência de um destes políticos, nos momentos de novas catástrofes no Rio?... Será que dormem em paz em seus secos travesseiros?!... E neste mesmo espírito crítico, um típico carioca disse:
-  Desde 1915 que nada! … O Rio de Janeiro sofre com as chuvas de verão desde o Dilúvio! - E completa: - Por aqui a Arca de Noé não passou!!!...'
        
            O desenhista J. Carlos entre os anos de 1922 e 1930, retratava com frequências os problemas causados pelas fortes chuvas no Rio de Janeiro, “que sempre foram de fazer malandro gritar: “Noé, traz a arca!...” A cidade sempre sofreu com as chuvas, especialmente em 1987 e em 2010.  São mesmo irresistíveis os textos do cronista e historiador  Luiz Antônio Simas, que disse: “O lápis de J. Carlos, acusa o despejo de famílias de baixa renda em nome da modernização do espaço urbano e ironiza as enchentes que azucrinam, desde sempre, o carioca (...) O Rio de Janeiro da década de 20 preocupava em virtude destes perrengues: doenças transmitidas por mosquitos, quantidade excessiva de impostos, abandono do porto,  qualidade ridícula dos serviços públicos, péssimo nível dos transpores coletivos e ainda aumentos frequentes, descaso com as famílias de baixa renda e enchentes que vez por outra açoitavam o povo de São Sebastião. O desenhista ainda preconizava que o automóvel seria o grande inimigo da cidade em curto espaço de tempo.”
LUIZ ANTONIO SIMAS no Blog História Brasileiras, 25/02/2010
            Já em 1915 outro cronista, Lima Barreto, disse:  “As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro, inundações desastrosas.”
            Cem anos depois, esta preocupação é muito atual, pois nada mudou, ou piorou com o supercrescimento da população e o aumento da ocupação em áreas de risco. E ainda temos o trânsito insuportável da cidade, que com suas obras intermináveis aumenta dia a dia o tamanho dos engarrafamentos. Obras de todos os tipos e infinitas recuperação de asfalto,  a adaptação ou maquiagem dos problemas, é comum em quase todos os casos, na cidade que recebeu uma Olimpíada e sediará uma Copa do Mundo... Todas estas obras intermináveis deixam sempre uma única interrogação na cabeça de todo cidadão carioca: Será que vai ficar pronto mesmo? Este é o retrato do fracasso urbano produzido pelo poder público e pela população da nossa cidade desde seus primórdios de sua formação desenfreada: Ruas alagas e centenas de barracos sendo levados pela enxurrada, gente sofrendo, perdendo o pouco que tem...  Um quadro nada maravilhoso!
            Agora vestida de uma transparente verdade, feito capa de chuva, a fantasia manifesta novamente o seu papel de alarme e ao mesmo tempo, nosso carnaval não deixa passar em branco mais este retrato lamentável e triste de nossa cidade... relembra as chuvas do verão de 2010,  que causaram verdadeiros estragos no Rio de Janeiro e em Niterói, deixando milhares de vítimas, criando mais uma mancha no sorriso e na vida deste povo maravilhoso e na história de sua cidade maravilhosa!
            Mas é carnaval e todas as cores podem ser um protesto, já que todos os batuques são a voz do povo oprimido, desta gente humilde que não tem como reclamar, ou quem as escute, não tem como se salvar! Por isto o samba jamais se calará! E esta gente faz da dor seu carnaval na escola de samba que é “voz do povo” cumprindo seu papel de denunciadora e de defensora ainda que burlesca dos direitos do cidadão.
            Não devemos esquecer, que o samba nasceu nestes mesmos morros oprimidos pelo descaso das autoridades, por sua inércia... E foi esta mesma gente excluída que inventou o Maior Espetáculo da Terra! Esta gente que é sem dúvida o maior patrimônio desta Cidade e que a torna verdadeiramente maravilhosa! Por isto o Carnaval é do Povo e é a festa da Igualdade, onde o mendigo vira Rei! E esta subversão que vem, à tona, todos anos, pode e deve ser uma voz de protesto em favor da liberdade e da igualdade.
As Escolas de Samba foram e sempre serão o que torna o Brasil um país mais igualitário, mais justo e menos triste!...
Por isto, chega de sambar por causa chuva!...


Bill Oliveira. 2014. Todos os Direitos Reservados. Copyright ©

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Referências Bibliográficas

SIMAS, Luis Antonio. 2010. Histórias Brasileiras Blogspot, em

J Carlos. Em Revista, Organizado e Realizado por Cássio Loredano e Julieta Sobral, e: http://www.jotacarlos.org/







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